FESTA DOS FINALISTAS - 1971
ESCOLA INDUSTRIAL E COMERCIAL DE PENAFIEL
FESTA DOS FINALISTAS
23 de Abril de 1971
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Carlos Pinto - Henrique - José Emílio - Freire |
Como o tempo passa!
Corria
o mês de Junho de 1961 e nas nossas colunas dizíamos: «Estão inscritos
127 alunos para os exames de admissão da Escola Técnica de Penafiel que
começará a funcionar, em Outubro próximo».
Esta
notícia foi-nos dada em primeira mão pelo então Presidente da Câmara
sr. Dr. Francisco da Silva Mendes, a quem se ficou devendo o primeiro
passo no capítulo ensino na nossa terra, a nível médio.
Dez
anos volvidos e eis que os números aumentaram e hoje a Escola
Industrial e Comercial de Penafiel conta com cerca de 1200 alunos
segundo foi afirmado pelo seu ilustre Director Dr. Aurélio Tavares.
Honra e louvor pois, aos pioneiros de tão frutuoso melhoramento para a nossa terra.
E
isto que acima fica escrito vem a propósito e foi-nos sugerido pela
festa dos finalistas levada a efeito na passada sexta-feira, com um
Sarau, no Cine Teatro S. Martinho.
É
que, se recordar é viver, nós, que estivemos na brecha, com
entrevistas, inquéritos, noticiários, avisos e demais formas de
interesse para a Escola Técnica, (veja-se colecções de 1961, do
«Notícias de Penafiel»), também nos sentimos intimamente satisfeitos com
o muito que naquele estabelecimento se tem feito no decurso destes dez
anos de existência.
Estão
de parabéns mestres e alunos pelo nível que nos foi dado presenciar
naquela festa e, melhor do que nós, as palavras proferidas pelo sr. Dr.
Aurélio Tavares, dirão do valor e alcance do acto em referência.
A
palavra pois ao Senhor Director da Escola transmitida a quantos
encheram por completo a sala do Cine-Teatro S. Martinho, na passada
sexta-feira:
Ex.mo Senhor Presidente da Câmara e demais autoridades,
Ex.mo Senhor Director da Escola Industrial e Comercial de Vila do Conde,
Ex.mos Senhores Reitor, Director do Ciclo Preparatório e Professores dos vários ramos de Ensino.
Ex.mas Senhoras e Senhores, Caros Estudantes, dilectos Finalistas:
Uma
primeira palavra é devida a quem ocupa os lugares destinados ao público
desta sala. Eu próprio me sento num deles em vez de deambular nos
bastidores, o que significa de momento e em relação à festa de hoje, que
sou apenas público. Isto me dirá também jus a ser juiz.
Perguntar-se-á:
para que espécie de espectáculo fomos convidados? Que manifestação de
arte teatral esperamos destes jovens? Serão eles porventura formados por
algum curso, onde se estudem os segredos subtis da técnica de
surpreender a vida e condensá-la, desencadear paixões, fixar a graça,
sugerir equívocos maliciosos, arrancar em suma o riso ou as lágrimas a
uma assistência suspensa dum palco? Nada disso. São – já quase poderei
dizer numa antecipação angustiada: foram aprendizes de trabalhadores sob
os tectos do edifício da entrada de Melhundos, adestraram-se ali para
obreiros de um futuro digno – em proveito deles próprios, do próprio lar
em potência, da região em que vierem a actuar, da sociedade nacional.
Não
viemos, portanto, saborear uma demonstração da arte de representar,
exibida por iniciados, nem sequer, porventura, cobrir de aplausos mais
ou menos generosos, uma companhia de amadores. Aqui nos congregou um fim
não menos válido, qual seja o de conviver por uns instantes com a nossa
juventude escolar, acarinhá-la, participar da sua exaltação, viver,
como se à idade deles houvéssemos regressado, a euforia deste final de
curso. Evidentemente que a olhos menos desatentos será possível a
apreensão de alguma coisa exibida neste palco que represente uma
demorada aprendizagem escolar. São com efeito alunos da minha Escola,
foi pela nossa acção docente e formativa que eles e elas se foram
abrindo para a cultura e para a técnica, para a consciência cívica e
moral, foi sob os nossos olhares mais paternais ainda que docentes, que a
sua adolescência desabrochou, de forma a integrar-se na plenitude da
idade adulta. Acaba-lhes nesta hora o ciclo de preparação estudantil,
vão dissolver-se na sociedade como elementos de trabalho produtivo. E a
Escola neste ensejo é-lhes o ninho donde se abrem as asas receosas para o
primeiro voo livre sobre o abismo. Sobre o abismo se debruçam eles e
elas, interrogando-se quanto ao futuro. Mas Deus lhes há-de permitir que
este seja o da dignidade e do êxito, embora ao ritmo em que se
processam as acções do nosso tempo, isto é, sob o signo da velocidade e
da violência.
Testemunho
a generosidade, o calor com que eles se deram à preparação do
espectáculo que vai seguir-se. Um pouco talvez desordenadamente, não por
culpa deles, mas por falta de tempos livres, tanto para orientação
docente como para a tarefa discente – as aulas funcionam
ininterruptamente desde as 8 horas da manhã às 11 da noite - , por falta
de salas onde os ensaios se realizassem – não se esqueça que a
frequência total das escolas cuja responsabilidade tenho, ascende já a
perto de mil e duzentos alunos, instalados em condições por vezes
incríveis, o que leva à mobilização de todo o espaço disponível…
Quantas, quantas vezes os ensaios não puderam ser feitos por falta de
uma simples sala!
Testemunho
ainda as canseiras, as aflições e até as incompreensões de que foram
vítimas estes jovens extraordinários, sem que esmorecesse alguma vez a
sua vontade de atingirem a festa de finalistas mais animada de sempre.
O
que vai sair, pois, de tanto trabalho, de tão comovedora persistência,
da beleza dum sonho intensamente vivido e melhor ou pior traduzido no
espectáculo desta noite? Embora se não possa garantir um acerto
impecável quanto à actuação dos participantes, uma coisa tenho por certa
da parte da compreensão de um público penafidelense: os largos e
quentes aplausos que vão premiar a simpatia, a beleza de alma da
mocidade que aqui se apresenta na intenção de agradar. E eles afinal
tudo merecem, porque deles espera também Penafiel a sua projecção nos
tempos que hão-de vir.
Referência
de muito apreço é devida aqui publicamente a duas Sr.as Professoras
nossas, que à causa dos finalistas se congregaram de toda a alma,
dando-lhes a mão, orientando-os, ajudando a tornar possível este
espectáculo. Justo é citar seus nomes: são as Senhoras Dona Bernardete,
espírito cultíssimo e dinâmico, e D. Brasinda, cuja mocidade entende a
mocidade.
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Prieto a cantar - Carlos Pinto - Henrique - José Emílio |
Às
Ex.mas Autoridades que se deram ao incómodo de aqui se deslocar, ao
Ex.mo Sr. Presidente da Câmara, cuja capacidade, realmente excepcional,
de a tudo estar presente na hora adequada, ainda permitiu, ao cabo de
mais de um dia por certo de um labor não isento de contrariedades a bem
da grei municipal, o ensejo de participar desta outra manifestação de
vitalidade do seu concelho, um intenso obrigado, em nome da Escola, no
deles e no meu próprio.
À
entidade proprietária da casa, ao Ex.mo Delegado da Inspecção de
Espectáculos, pelo auxílio prestado, também o nosso melhor
agradecimento.
Quer
dizer da inesperada reaparição entre nós de um penafidelense ilustre,
cuja ausência da Escola por ele servida abnegada e eficientemente
durante sete anos, como seu Subdirector prestigioso, enche de sombra
aquela Casa, onde todos nós não poderemos mais desabituar-nos da sua
acção e da sua presença? Aludo ao meu querido e particular Amigo
Escultor Carneiro Giraldes, hoje Director da Escola Industrial e
Comercial de Vila do Conde.
Teve
sua Ex.ª a extrema delicadeza de não se escusar com legítimas razões de
serviço, tão compreensíveis e naturais, acedendo antes prontamente,
calorosamente, ao convite espontâneo dos finalistas, que em saudosos
anos de convívio aprenderam a respeitá-lo e a estimá-lo e, tal como eu e
como os outros seus amigos, sentiram o abalo da sua partida e sofrem o
desgosto da sua falta.
Bendigo
portanto esta oportunidade feliz que me possibilita um agradecimento
bem merecido, em nome do Estabelecimento de Ensino a que ainda pertence,
que ele ajudou a erguer, e um voto, que anda na alma de todos nós, e
que é este: que a sua Escola, Senhor Director, prospere e se engrandeça,
restituindo-lhe mais tarde em satisfação e legítimo orgulho, quanto V.
Ex.ª lhe dá presentemente em dedicação e trabalho!
In jornal "O Tempo" de 9 de Maio de 1971
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