Dr. FERREIRA DE SOUSA
O Meu Professor de Francês
O Meu Professor de Francês
Confesso
que fiquei entristecido ao tomar conhecimento através do jornal O
Penafidelense da morte no dia 3 de Agosto de 2007, do meu professor de
francês na Escola Industrial de Penafiel, Dr. Ferreira de Sousa, o homem
que nos tratava por cavalheiros.
Outra
coisa que me chamou a atenção, foi o seu currículo académico, embora
todos que com ele aprendemos sabíamos da sua sabedoria e cultura, pois
não é por acaso que o alcunhamos de “enciclopédia”. É que o Dr. Ferreira de Sousa falava de qualquer assunto com relativa facilidade e à vontade.
Já
que falei neste assunto da enciclopédia, vou contar uma peripécia que
se passou numa das suas aulas. Enquanto o Dr. Ferreira de Sousa escrevia
algo no quadro preto de costas voltadas para os alunos, um colega da
fila do fundo para o enervar, começou a dizer baixinho mas de maneira
que ele ouvisse Enciclopédia… Enciclopédia… Terminada a escrita virou-se
para a turma e com um ar meio de gozo meio a sério perguntou:
-Parece que está aí um cavalheiro a dizer que é parvo?!
Era com estas tiradas, em sentido contrário do que a malta previa, que ele desarmava todo o mundo.
Quando
alguém se comportava menos bem durante a aula, uma regra que ele
aplicava frequentemente, era a expulsão por dois minutos do cavalheiro
prevaricador da sala. O certo e sabido é que esta pedagogia geralmente
resultava, já que o aluno punido quando regressava à aula comportava-se
de modo diferente até ao seu final.
Uma
outra regra que ele também aplicava durante os testes que fazíamos
durante o ano, era dar a resposta da primeira pergunta como que a servir
de motor de arranque para começarmos a escrever, e quem se dedicava
como ele à escrita, sabia muitíssimo bem que isto do iniciar é muita das
vezes o despertar da inspiração.
Certo
dia conversa puxa conversa, saiu-lhe em plena aula esta frase: Os
barbeiros são todos uns charlatães! Como na turma havia um filho de um
barbeiro cá da cidade, este respondeu-lhe de pronto: - E os advogados
são todos uns aldrabões.
- Ó cavalheiro, você conhece todos os advogados para fazer essa afirmação? Ao que leva por resposta:
- E o senhor Doutor conhece todos os barbeiros?
Aí,
ele apercebe-se que sem querer tinha insultado o pai do aluno e ambos
viraram a página, seguindo a aula com outro assunto, terminando a mesma
com ambos a sorrirem do episódio.
Politicamente
sempre defendeu com convicção um Portugal do Minho a Timor, e por isso
nunca se adaptou ao novo regime saído de Abril como muitos o fizeram.
Da
última vez que o vi, foi na Casa da Cultura de Paredes, num sarau de
poesia dado pelos poetas José Jorge Letria e José Fanha. Acontece, que o
mesmo estava para iniciar às 18 horas, mas devido a um engano de
percurso os declamadores avisaram que chegariam cerca de meia hora mais
tarde. Para preencher este intervalo de tempo, a vereadora do pelouro da
cultura da Câmara de Paredes, foi ao palco não só avisar o atraso, como
apelou que se algum dos presentes quisesse dizer algum poema tinha o
palco à disposição. O Dr. Ferreira de Sousa lá foi ler um poema de
grande folgo fazendo a apologia do Império. Evidentemente que quando
José Fanha e José Jorge Letria começaram a debitar poesia virada mais
para a esquerda politicamente falando, o Dr. Ferreira de Sousa verificou
que alguém se tinha enganado e sorrateiramente abandonou a sala.
Coerente com a sua consciência, partiu deste mundo para o reino dos justos.
Que a sua alma descansa em paz, porque mais dia, menos dia, a gente lá se encontra…
Ó CAVALHEIRO.
Extraído do blogue "Penafiel Terra Nossa"
de Fernando José de Oliveira
Dr. Ferreira de Sousa com o 1.º ano da Secção Preparatória aos Institutos Páscoa 1970 |
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