ENTREVISTA COM O DIRECTOR
ESCOLA INDUSTRIAL DE PENAFIEL
ENTREVISTA COM O DIRECTOR
Análise das notas do 2º período
Abril de 1962
Acabou
o segundo período escolar, decisivo quanto ao aproveitamento dos alunos
dos estabelecimentos de ensino oficial. Na Escola Industrial de
Penafiel, foram afixadas as pautas com as notas deste segundo período, a
definir quais os alunos com impossibilidades de vencer o ano e, como
tal a rotular o seu aproveitamento deficiente.
As
notas trouxeram para muitos a certeza dum critério exacto de
classificação – a que se não estava habituado – mas, parece que houve um
abaixamento de nível nessas classificações, em relação ao período
anterior.
Este
e outros assuntos merecem uma troca de impressões com o Senhor Dr.
Hernâni, como sempre simpatiquíssimo para connosco. Dessa troca de
impressões nasceram algumas perguntas e respostas, de que damos conta
aos nossos leitores.
- Teria havido, nas notas deste segundo período um abaixamento de nível?
Não se pode dizer tal, mas sim que houve um abaixamento das condições morais em que vivem os alunos. Nota-se
que nas turmas femininas a média geral é mais elevada: é que enquanto
estas são retidas tanto quanto possível na escola, os rapazes vão-se
para jogar a pedra, para vadiagem de vária espécie, enquanto não vem a
camioneta, vão para tabernas enquanto não há cantina. Por outro lado há o
factor familiar os pais controlam a vida das raparigas, enquanto se
desinteressam pela dos rapazes – e, o que é pior – sendo convocados para
comparecerem na Escola, não se dignam comparecer.
Durante
todo o 2º período, apenas 3 encarregados de educação vieram procurar
saber algo de seus educandos. Mais e mais grave: são anotados os
cadernos diários para que os encarregados de educação tomem
conhecimento, são enviados cartões de aviso sobre as faltas, e … só um
apareceu! A Escola não pode fazer tudo; é preciso que as famílias
colaborem. A própria disciplina se recente: a quantidade de material
deteriorado pelos alunos – não pelas alunas – é enorme (a falta de
pessoal menor é em parte responsável), e, neste caminhar, as suspensões
têm que aumentar. Mas veja-se: convoca-se o encarregado de educação uma e
duas vezes para dar cumprimento à lei, e este não aparece.
Que fazer?
O
que se está verificando obriga-nos a atitudes mais rígidas nos próximos
exames de admissão, mormente no que diz respeito ao Português e à
Matemática. De resto, nota-se a capacidade de apreensão dos alunos, um
nível médio de inteligência razoável, mas sim também o desinteresse após
as aulas. É caso gravíssimo; houve um encarregado de educação que
resolveu castigar o filho não sei porque motivo, ou impedindo-o de vir
às aulas ou escondendo-lhe os livros e os cadernos. É com colaboração
desta que se pode construir?! Esperamos que
muitos destes males se remedeiem no próximo ano escolar, apesar de poder
acontecer que indivíduos ou instituições não oficiais teimem em
desprestigiar a Escola. Temos uma missão múltipla a cumprir que
nos foi confiada pelo Estado: preparar cidadãos úteis à Pátria, sem
subterfúgios, sem adesões a mesquinhices de carácter local – aliás
existem infelizmente em todos os meios mais ou menos pequenos.
- E, quanto a transportes? Haverá possibilidades de alargar a rede, de forma a servir os alunos?
Alguém
do Ministério das Comunicações veio visitar-nos – e com muita
satisfação o declaro: não só os problemas foram muito bem compreendidos,
como foi aceite sem reservas a ligação com Lousada via Novelas; e a
grande esperança, em via de solução, de uma outra carreira que trará à
Escola centenas de alunos! Se interesses particulares não se opuseram à
boa vontade das Autoridades da Nação, quase poderemos afirmar que esta
nova carreira fará que a Escola, dentro de três ou quatro anos venha a
ter mais de 600 alunos. Compreenderão o comércio, as forças vivas de
Penafiel, o que representa isto?
- Como encara a Direcção da Escola a afluência de alunos prevista para o próximo ano lectivo?
Teremos
de arranjar uma solução de emergência que depende de três
boas-vontades: a do nosso ministério, fornecendo algumas salas
desmontáveis, o da Misericórdia cedendo uns metros quadrados de terreno
sem grande prejuízo para a vinha que o ocupa, e da Câmara, se esta
conseguir meio de construir um pavilhão em tijolos aparelhados
interiormente e com cobertura de zinco ou fibrocimento. De qualquer
forma há que solucionar o problema, pois que as estimativas prevêem um
acréscimo de algumas centenas de alunos!
Para
muitos dos nossos leitores esta troca de impressões fica como que a
servir de informação, quanto à maneira como a Direcção da Escola encara a
«assistência familiar» aos seus alunos. É preciso completar a acção da
Escola e esse complemento pertence aos Encarregados de Educação. Será
desse esforço comum que valorizaremos o homem de amanhã.
In jornal “Noticias de Penafiel” de 20 de Abril de 1962
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